quarta-feira, 21 de março de 2018

Não é só rebobinar


Quando edito imagens recolhidas por mim, há sempre um momento em me vejo encurralado. No pretérito perfeito tudo foi limpinho, filmei, desenhei, aquele campo e plano, aquele rec que merece, que merece mesmo fazer parte. Porém, ali, hoje, naquele clique esse clip simplesmente não encaixa. Não serve. Tantas ideias, tanto tempo para aquela pesca e assim, aos trambolhões na realidade, percebo que não. É bater no cimento, mas é nódoa negra que sara com a vitória do conjunto. A meu ver, é este o maior problema de 1986: inserir todas essas memórias que ali fizeram sentido, que ali brilharam, em detrimento de uma história. Os episódios, os sketches, podem a título individual ter valor - e explicados depois pelo autor ganham outra força - agora enquanto comboio simplesmente não andam. Não existe fluidez. São referências, referências, o ano do título escravo dele próprio. A música, o cinema, tem de ser o contexto e não o texto. Não repetir que estamos a ouvir The Smiths, nós sabemos que estamos a ouvir The Smiths. A enciclopédia rouba não só conteúdo como tira ritmo: no final do segundo episódio, há um momento, depois do acidente do Challenger, em que os dois protagonistas se encontram, e se "conhecem" pela primeira vez. É um final na mouche que pedia ali continuidade, atribulações, surpresas, reviravoltas. Pedia um Namorada Aluga-se por exemplo. Mas volta-se à necessidade de falar daquele tema, daquele evento e as personagens diluem-se. E isto acaba também por influenciar as interpretações que para além de serem caricaturais e exageradas - especialmente os adultos - perdem naturalidade com estes diálogos demasiado preocupados. Deixem-nos ir, deixem-nos ser.  Nota-se esta tentativa de sair do casulo por parte do melhor papel da série- dez zero ao resto - a jovem Marta, que apesar de correr naquelas andanças familiares e políticas - lá sonha. Lá se perde nela própria. Faltam esses passeios. Ao fim de quatro episódios provavelmente irei passar a pasta. Seja como for 1986 arriscou, criou um universo transmedia muito curioso - especialmente nas suas canções originais - e atacou de frente as novas plataformas. Só isso já é uma valente e importante conquista.

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