quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Leva lá a cena para a casa

Quatro mil quinhentas e oitenta e quatro nomeações incluindo a de melhor "tens de ver já esta merda senão morres!". Ok, ok, Birdman, sou todo teu. E pronto. Sacana do rato. Eu gosto de um bom exercício, mas o exercício tem de servir o filme e não o contrário. Regra que se aplica a pequenos malabarismos e que ganha completa forma, quando a façanha é a totalidade do conteúdo. A suposta sequência e seus tambores são uma pequena maravilha, um frenético impasse à De Palma que se encaixa. Durante algum tempo. Depois vêm os outros requisitos e aqui o passaroco nem chega a levantar voo. Precisamente porque não deixam: o fecha e abre não facilita a decisão, como se a própria obra andasse perdida, retirando a respiração necessária. O peso, se este é o teu canto, falta-te tanto peso. Tanto de visceral, na relação com o passado, com o herói que foste outrora, devia crescer, devia rasgar a tela em asombrações e projecções, destruir, sangrar; a voz, a única que temos, devia rebentar-nos a vida. Mas não, não deixam. E o mais grave é que esta brincadeira do comeback já foi feita em bom. Chamava-se The Wrestler.

2 comentários:

Anónimo disse...

Costumamos concordar quase sempre. Este é um daqueles momentos em que tal não acontece. Se eu gosto muito mais do Darren do que do Inarritu (de quem abominei o Babel e suportei o 21 gramas), devo confessar que gostei pouco do The Wrestler e muito do Birdman. Aliás, para mim o Birdman é que é a brincadeira do comeback bem feita. Não sei se é por eu achar o Keaton muito melhor Batman que o Bale (e sim, abomino o Batman do Nolan, não o Joker e sim, detestei o Interstellar, sci fi o ano passado foi o Coherence e o Upstream Color e aquele cujo nome não me lembro com o Ethan Hawke). Não sei se é por achar que o Mickey Rourke bom actor já foi há uns anos largos atrás (Rumble Fish, Year of the dragon). Enfim, divergências saudáveis de opinião que se gostássemos todos do mesmo o amarelo andava bem lixado :D
Nuno Rechena

Miguel Ferreira disse...

Nuno, desculpa a demora na resposta!Acho que estas obras mais viradas para o exercício, para o pessoal, suscitam em cada uma série de sub-razões que nunca conseguiremos muito bem justificar. Provavelmente afinidades, não sei. E eu gosto imenso do Keaton, é também para mim o único e verdadeiro Batman. O que eu achei é que o filme não consegue descolar da tentativa e chegar até ao espectador, talvez pelos mecanismos do teatro. Depois final muito previsível e secundários muito abaixo do esperado. Enfim, desiludiu-me à bruta. Mas é como dizes, é saudável poder debater e discutir! =)