quarta-feira, 21 de maio de 2014

Cinema Animal - Leão

Cinema Animal é a nova rubrica mensal do Créditos Finais. Sem maçar, trata-se de um desafio proposto a três ilustres da blogosfera nacional, onde eu digo o animal e eles o filme. Basicamente é isto. E para dar o pontapé de saída eu rugi o LEÃO. Vamos ver o que eles responderam

Jorge Rodrigues 

Começo por desculpar-me antecipadamente se a conexão entre o tema e este filme soar ténue, mas para mim faz todo o sentido, daí que vos peça a vossa indulgência. Quando sugerido o tema deste desafio, admito que o meu primeiro pensamento foi “The Lion King”. Óbvio, eu sei. Depois procurei pensar mais longe, noutros leões impressionantes da Sétima Arte, como o Cowardly Lion de “The Wizard of Oz” e Aslan de “The Chronicles of Narnia”. Ótimas escolhas, todos. Mas foi subitamente que me lembrei: e que tal falar do enorme clássico de Harvey e Goldman, “The Lion in Winter”, e da magnífica e incandescente parceria dos gigantes Peter O’Toole como King Henry II e Katharine Hepburn como Eleanor of Aquitaine? Um constante duelo de titãs, viperino e letal, entre um casal imerso numa brutal luta pelo poder superior na relação que, por acaso, são soberanos da coroa inglesa. Dois verdadeiros leões, magníficos e majestosos, que nunca dão parte fraca de si.

João Bizarro

Foi pedido para esta iniciativa que falasse de um filme associado a uma espécie animal. Por azar calhou-me logo o leão, não porque não goste do bicho, que até é giro e tem bom aspecto mas falarem-me de leão ou lagarto para mim vai dar ao mesmo. Por isso o filme que escolhesse teria de ser do género humor. 

Alguns filmes me vieram à mente, mas apenas um reflectia aquilo que eu pretendia, e esse filme é "Four Lions". O filme apresenta-nos os 4 jihadistas mais estúpidos à face da terra. Christopher Morris viu bem a coisa e mostra como devem ser os leões, com momentos hilariantes de preparação e execução de ataques terroristas. As virgens devem ter ficado contentes com estes leões.

Gabriel Martins

Atire a primeira pedra quem não se lembrou instantaneamente de “The Lion King” quando juntaram as palavras Cinema + Leão na cabeça. Sem contar com a pequena percentagem que se lembrou do “Leão da Estrela” ou de outro filme qualquer, a verdade é que “The Lion King” é um daqueles nomes que salta logo na memória e por isso mesmo um nome ao qual tentei escapar a toda a velocidade.

Talvez tenha corrido demais porque quase fui parar ao mesmo sítio quando escolhi “Hamlet”, afinal de contas, “The Lion King” bebe clara inspiração da peça de William Shakespeare. Quem sabe se a Disney não fez as mesmas associações que eu ao terem escolhido o leão para representar esta história? Ou então é mesmo uma simples coincidência. De qualquer das formas o filme que para mim melhor espelha este felino é “Hamlet” realizado por Laurence Olivier (na realidade não vi outra versão).

O leão é o felino mais sociável, vivendo em grupo e sendo liderado sempre por um membro do sexo masculino. A maioria dos felinos prefere viver isoladamente, mas o leão por alguma razão optou por manter esta estrutura de sociedade. A taxa de sucesso que obtêm ao caçar em grupo e o sentimento de afinidade para com a mesma espécie poderão ser dois dos factores que contribuíram para este comportamento. Nesse sentido, também o Homem percebeu cedo as vantagens de viver em comunidade e também o Homem desenvolveu uma ligação muito forte aos seus. Isto aliado ao facto deste animal se ter tornado um símbolo para “O Rei dos Animais” evocou-me os tempos medievais, onde existiam sociedades patriarcais lideradas por um Rei.

Num grupo de leões, são as leoas as grandes responsáveis pela caça, uma vez que fisicamente são mais aptas para esta tarefa (mais pequenas e ágeis). No entanto, os machos aparentam ter tanto sucesso como as fêmeas quando caçam, a grande diferença é que raramente partilham a carne que caçaram. Os leões são a prova viva de como o sexo feminino é forte, mas mantendo-o mesmo assim num nível de desigualdade entre os dois géneros (a leoa também nunca é a líder). Ora ao longo da História a mulher tem vindo a lutar pela sua igualdade, provando vezes sem conta o seu valor. Focando a atenção nos tempos medievais, mesmo que a mulher não assumisse o papel de caçadora como no caso dos leões, parece ser claro que estamos perante um período da História em que a mulher era tratada, injustamente, como o sexo menor.

Voltando agora aos leões machos, uma das suas grandes funções no grupo, consiste na sua protecção de outros predadores. O leão é mais adequado para esta tarefa por ser maior e mais forte que a leoa. O mesmo se dizia dos homens e por isso a missão de defender a família e a pátria recaiu ao longo dos tempos sobre ele. De facto o homem tem assumido o papel de guerreiro na História e se hoje em dia essa distinção já não é tão clara, nos tempos medievais essa questão nem se coloca.

Por tudo isto o facto de “Hamlet” decorrer no reinado da Dinamarca, durante um período medieval (a data precisa não é conhecida), assentava perfeitamente no contexto que procurava. Além do mais um grupo de leões é apelidado em inglês de Pride, que pode significar também orgulho, um sentimento muito associado à classe da nobreza.

Outro aspecto curioso, mas extremamente cruel no leão é que quando o líder morre e outro toma o seu lugar, ao fazê-lo pode matar toda a sua descendência para que nenhum filho reclame o “trono”. O sentimento de auto-preservação é algo que muitas vezes faz o Homem tomar decisões que condenaria a nível moral e tal é o caso em “Hamlet”. Convém referir primeiro que esta se trata da história do jovem Hamlet filho do falecido Rei da Dinamarca, que foi assassinado pelo seu irmão Claudius a fim de este usurpar o trono e a rainha também. Para Hamlet se a morte do seu pai só por si já tinha sido suficiente para abalar profundamente o seu espírito, no momento em que descobriu a verdade, nunca mais conseguiu expulsar a sede de vingança do seu coração.

É verdade que a início Claudius não tem intenções de matar Hamlet, mas com o tempo compreende a segurança desta opção.Enquanto Hamlet viver, o seu reinado e a sua vida estarão sempre em perigo e por isso, Claudius, o novo Rei da Dinamarca, acaba por conspirar para matar o seu sobrinho (agora também enteado), tal como havia feito originalmente com o seu pai. Por vezes quando escolhemos seguir um caminho negro para chegar a um fim, muitas vezes nunca mais conseguimos abandoná-lo.

“Hamlet” é uma obra majestosa, feroz, cruel e trágica. Tem as características que associo ao leão, esse animal que a partir da sua natureza (é o maior felino das savanas africanas), mas também das lendas (aquela juba fê-lo Rei), se tornou uma das figuras mais imponentes entre os animais, tal como “Hamlet” é hoje em dia uma das peças mais imponentes no teatro e a qual Olivier adaptou muito bem ao Cinema.

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