sexta-feira, 4 de julho de 2008

El Orfanato

Reduzir O Orfanato a um filme de fantasmas é como reduzir Paris à Torre Eiffel. Há muito mais para ver nas ruas desta nova obra do cinema espanhol, na verdade há um sem número de géneros que se interligam e juntam com uma harmonia e inteligência distintas.

O filme arranca com as cartas fundamentais do jogo, as crianças. Estas brincam inocentemente até um telefonema arrancar com uns créditos iniciais absolutamente fantásticos [papel de parede]. Avançamos então no tempo para o cerne da história: um casal com um filho adoptado decide reabrir um velho orfanato com o intuito de receber crianças deficientes. Na festa de inauguração o seu filho desaparece sem deixar rasto dando início a uma busca incessante que só termina com o fundo negro do fim. Esta é a base que num dia normal nos daria um vulgar conto de uma alma penada e vingativa.

Mas neste orfanato há a mestria e o ritmo para nos darem: primeiro uma inevitável história de fantasmas, com o passado da velha instalação a vir ao de cima. Há arrepios, há figuras sinistras e há, um ou dois, saltos no assento, tudo em dose certa; de seguida temos uma história de desaparecimento, de rapto, de pistas e mistérios, um policial negro bem filmado, assente numa tensão que vai gotejando cada vez com mais força; em terceiro lugar temos um filme duma mãe que perdeu o seu filho, do desespero e da dor, da obsessão e da loucura crescentes, do amor maior que uma vida; em último lugar temos todo um imaginário infantil, de conto leve e feliz, de eternas crianças e terras distantes. Pelas sonolentas leis da física esta miscelânea de tipos e géneros não se deveria fundir e dissolver. Mas Juan Antonio Bayona teve mãos para a complicada tarefa de casar tudo isto e o resultado é um filme de terror (não podemos fugir ao rótulo) em tudo superior, desde as excelentes interpretações (principalmente Belén Rueda), até ao seu ritmo carregado de tensão e mistério, passando por meia dúzia de gritos assustados e uma boa fotografia. E talvez por ir completamente sem fôlego durante a viagem esperava um final um pouco mais arrebatador, não está mal desenhado e imaginado, eu queria apenas mais, mas, não podemos ter tudo.

Esperemos então que o nome de Guillermo Del Toro no poster seja uma luz forte para guiar todas as pessoas até este magnífico entretenimento.

(+) A fusão perfeita de uma série de géneros.
(-) O final não é mau. Podia era ser melhor.

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